segunda-feira, setembro 29, 2014

EUGÉNIA LIMA

UMA 
MULHER DA TERRA ALBICASTRENSE
Como é sabido os albicastrenses são pouco de fazer homenagens a quem nasceu na sua terra, e mesmo assim, quando tal acontece é porque a coisa é de tal maneira escandalosa, que lá tem que ser.
Se olharmos bem pela terra albicastrense, constatamos o seguinte: Temos o busto do Vaz Preto no Largo da Sé, o Amato no largo do Município e uma ou outra placa a assinalar que ali nasceu um determinado ilustre da terra albicastrense. Vem esta conversa a propósito de um comentário que alguém me deixou no facebook.

Dizia o referido comentário:
Quando vai a terra albicastrense fazer uma justa homenagem à grande Eugénia Lima?”

Respondi na altura, que era defensor de que as homenagens devem ser feitas em vida e não depois das pessoas morrerem.
Contudo, ontem ao passar pela casa onde nasceu Eugénia Lima (Rua do Espírito Santo), e ao olhar para a placa que está na fachada da casa que assinala ali o seu nascimento, veio-me à memória a pergunta que me tinha sido feita no facebook e perguntei a mim mesmo:
Que mal terá feito Eugénia Lima à terra albicastrense, para que na casa onde nasceu apenas conste uma reles placa, com uma ainda mais pobre inscrição: “Aqui nasceu a 29 de Março de 1926 a acordeonista Eugénia Lima (5-7-1980)”.
A pergunta que aqui deixo aos visitantes desde sitio, só pode ser uma:

Não merecerá quem transportou o nome da terra albicastrense por todo o pais e pelo mundo fora, algo mais que uma simples placa na casa em que nasceu e onde atualmente existe uma casa comercial?

Lembro ainda, que Eugénia Lima foi igualmente uma das fundadoras da Orquestra Típica Albicastrense, onde foi a primeira Maestrina coadjuvada por José Bernardo e o seu nome, consta no Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis.
Comente esta sugestão, pois todos não somos demais para prestar homenagem a esta grande mulher.
PS. Eugénia Lima morreu em 2014 na cidade de Rio Maior, com 88 anos de idade
O Albicastrense

sábado, setembro 27, 2014

quinta-feira, setembro 25, 2014

segunda-feira, setembro 22, 2014

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS – XC

A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).
O texto está escrito, tal como foi publicado.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
(Continuação)
Na sessão de 27 de Junho de 1797, que é a que vem a seguir à de 22 de Maio, “foi nomeado para Inspector e vigiar sobre a factura a concerto dos caminhos que se vão principiar nos termos desta cidade e que se ade continuar athé à mesma a Jozé Francisco Vidal Salgado”.
Deliberou-se ainda dar licença para “ se acarretar o pam de folha” e, alem disse:
- se nomeou na forma de hum oficio do Marechal de Campo João da Silveyra Pinto que Governa as Armas desta Província para Depozitario das Muniçoens de Guerra que se achão nesta Cidade e das mais possão vir a Francisco Jozé Magro desta Cidade e para tomar dellas entrega foy mandada notheficar pelo Alcayde.

Mas, ao que parece, o tal cargo de depositário das munições de guerra não era muito de apetecer, porque logo quatro dias depois, ou seja no dia 1 de Julho, torna a haver sessão da Câmara e a acta reza assim:

Nesta Vereação atendendo às justas rezoens que alegou Francisco Jozé Magro depozitario nomeada para nomeado para as muniçoens de Guerra e principalmente a se achar continuadamente ocupado na factura e preparo dos remédios para o Hospital melitar como Boticario do mesmo, foy nomeado em seu lugar Manuel Gomess Ayres, e se mandou ao Alcayde que noteficasse para dentro em vinte e quatro horas fosse tomar conta das ditas moniçoens á Casa do Castello em que se achão e a mim Escrivão que dellas lhe fizesse termo de entrega e que logo se fizesse sabedor o Ex.mo Sr. General desta Provincia da mesma nomeação”.

Era caso úrgico o da nomeação do depositário das munições dentro de vinte e quatro horas o homem havia de tomar conta do cargo e havia de comunicar-se a nomeação ao general da província.
O certo é, porém, que o Manuel Gomes Ayres não esteve para se meter em trabalhos e na sessão seguinte da Câmara, que se realizou em 16 de Julho, os vereadores, “atendendo às rezoens” que o Ayres alegou, nomearam outro depositário que se chamava Vicente Ferreira.
Ao que parece, este resolveu-se a ser o depositário das tais munições, porque não encontramos nada que indique que também este alegasse “justas rezoens” para se livrar dos trabalhos que lhe metiam em casa.
Nesta sessão foi ainda nomeado para “cargo de Feitor e recebedor da Alfandega” José da Silva Castelo Branco.
(Continua)
PS. Aos leitores dos postes “Efemérides Municipais”, o que acabaram de ler, é uma transcrição fiel do que foi publicado na época.
O Albicastrense

sábado, setembro 20, 2014

quarta-feira, setembro 17, 2014

ENCICLOPÉDIA - (VIII)

NINHARIAS, FRIOLEIRAS E BAGATELAS

Notícia do que se praticou na vila de Castelo Branco, por ocasião do falecimento de El. Rei D. João V.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jezus Cristo de 1750, aos 31 do mez de Agosto do dito anno nesta villa de Castelo Branco nas cazas da camara della estando ahi presentes o doutor Bento Caetano Freyre juiz de fora, Nicolau Tudella de Castilho vereador, Diogo Luiz de Sousa vereador dos annos anteriores, que foi chamado por impedimento do vereador mais velho Manoel de Magalais e Menezes, e Pedro Affonso Urgueira, procurador da camara, e as pessoas nobres e da governança e mesteres do povo, ahi por todos em observância de hua carta de sua magestade, que Deus guarde, se fizerão as demostrações de sentimento e pranto pella morte do senhor rei D. Joao o quinto nosso senhor que Deus haja em gloria em que se teve a ordem seguinte.
No dia de segunda feira 31 de Agosto do sobre dito anno pellas sinco horas da tarde sahirão todos com grandes lutos da caza da camara, em primeiro logar Rodrigo Luiz de Souza com hua bandeira preta que lavava de rastos e nela as armas reaes, logo o doutor Bento Caetano Freyre, juiz de fora, Nicolao Tudella de Castilho vereador, e o escrivão da câmara (1) na falta do outro vereador, cada hum com o seu escudo nas mãos junto ao peito, e de trás d’ elles o procurador da câmara e mesteres do povo, seguido-se logo as pessoas principaes e da governação e a trás d’ estes os officiaes de justiça e juízes das aldeãs, que forão chamados para assistirem a este acto, e logo toda a gente do povo, e juntos todos na praça ahi subio em hum cavallo todo coberto de luto o sobredito Rodrigo Luiz de Souza com a bandeira real sobre o hombro direito a cahida, e logo no alto da primeira escada da câmara o doutor Bento Caetano Freyre juiz de fora dice em voz alta a todos. chorai dice em vos alta a todos: Chorai fidalgos, chorai nobres e chorai povo a morte del rei D. Joao quinto nosso senhor que nos governou tantos annos em pas, e acabando as dittas palavras quebrou o seu escudo sobre hua menza que estava diante coberta de luto, e pegou na sua vara costumada que levou de rastos, e logo forão todos pella ordem asima dita pella rua dos Ferreiros adianta, fora da porta da villa (2) o vereador Nicolau Tudella de Castilho subindo sobre hum estrado coberto de luto repetio as sobreditas palavras e quebrou seu escudo, e pegou na sua vara preta levande-a de rastos, e indo todos a rua adiante á Deveza (3) ruas de S. Sebastião e arrabalde da Ferradura, ao Espírito Santo fora da rua Santa Maria sobre outro estrado coberto de luto o escrivão da camara repetio as sobretidas palavras quebrou o seu escudo, e tomou a sua vara preta levande-a de rastos, e pella rua dos Ferreiros (4) recolherão para a casa da câmara sahirão o dito doutor juiz de fora e os mais do senado da camara com bandeira preta que levava o dito Rodrigo Luiz de Souza, lavando varas pretas de rastos acompanhados da nobreza e mesteres do povo, officiaes de justiça, juízes das aldeãs e lugares do termo e povo para a Igreja de Santa Maria aonde se fizerão as exéquias de sua magestade defunta com sermão e muita sumptuosidade, e dahi sahirão todos da mesma sorte para casa da câmara aonde mandarão lavrar este termo”.

1 - O homem por modéstia é que não escreveu o nome, mas é justo que se diga, pois bem o merece, ainda que mais não seja, para se saber quem foi o autor de escripto tão monumental. Era o Sr. Manoel Ferrão de Pina e Olival. Tinha uma caligrafia que só por castigo se pode ler o que escreveu. O homem parece que tinha a ideia reservada de que no futuro se não pudesse saber nada do que elle escrevia. Enganou-se, coitado, e Deus lhe perdoe as zangas que me fez ter para lhe decifrar os hiéroglyphos.
2 - Porta da Villa – estava situada esta porta da muralha à entrada norte da rua dos Ferreiros.
3 - Hoje parece um disparate este itinerário. A Deveza de então era um vasto campo sem casas que abrangia o actual Largo da Sé, Quita Nova, Largo de Santo António, limitando-se com a capella de S. Gregório (hoje Senhora da Piedade) e com a do Espírito Santo. A rua da Ferradura era então um arrabalde da villa! A cidade moderna está quase toda na deveza.
4 - E’ equivoco, deve ser pela rua de Santa Maria, não e de crer que voltassem para traz. 

O texto é da autoria de António Roxo e publicado em 1888 no antigo jornal; "Correio da Beira".
Ps. O texto está postado, tal como foi publicado na época. 
O Albicastrense

domingo, setembro 14, 2014

ENCICLOPÉDIA - (VII)

ACONTECIMENTOS DE OUTROS TEMPOS
No dia 10 de setembro de 1887, em reunião administrativa do conselho, foi decidido convocar todos os indivíduos que exerciam a actividade de cocheiros, para se apresentarem no Campo de Montalvão nos dias 24 e 25 se Setembro a fim de serem submetidos a provas de condução  de hipomóveis.
O júri dos exames era composto pelos peritos em condução de cavalos de sela e atrelados a carroças. José Garrido, José da Silva Brasão e António Pereira.

PS. A recolha dos dados históricos de José Dias.
Compilação de Gil Reis e foram publicados no Jornal
 ”A Reconquista”. 
O Albicastrense

sexta-feira, setembro 12, 2014

A TERRA ALBISCASTRENSE

VINTE ANOS DEPOIS - (II)
(continuação)
Caminhei em busca de casa onde fosse possível instalar-me. As pessoas não me conheciam já, e eu só neste ou naquele mais idoso, notava traços do que tinham sido, sem que pudesse ligar nomes a pessoas.
Depois fui à Sé – igreja onde me batizaram – fazer a minha oração, como cristão convicto que sou. O ambiente era, como foi sempre, acolhedor, só os homens teriam mudado muito. A fé pareceu-me maior. Percorri ruas e vielas, algumas das quais não tinham mudado nada de especto e dirigi-me ao Castelo para aproveitar a altitude para maior domínio sobre o horizonte, dominando todo o panorama que de baixo me era impossível.
Que belo miradouro!... Coisa nova também, convidativa e confortável, que as entidades administrativas criaram para delicia do seu povo, ou do viajante, como eu. Uma suave escadaria, coberta de árvores novas formando arcadas, dominava o declive outrora escarpado e ia perder-se numa esplanada ajardinada, com um esplêndido lago e outras árvores também novitas, cuja sombra me convidou a ficar mais tempo, comodamente instalado a uma mesa de granito. Bebi até fartar, agua fresca que o local também me forneceu.
Lá estava ao longe a Serra da Estrela, coberta ainda de neve, qual lençol muito estendido a secar, que a mão da natureza ali colocou. Na minha frente, o cabeço do Cansado, coberto de casas. No meu tempo tinha apenas uma, o matadouro municipal. O Parque e o Jardim do Paço eram outras maravilhas, que embora já existissem estavam agora mais formosos e cuidados. Até a quelha da Alegria, com sua lenda, deram lugar a outro incendimento útil, “o lactário”, salvo erro.
À volta do quartel de Cavalaria, notava-se nitidamente dali, o muito que estava feito e o muito que também estava em via de realização. Por toda a parte, coisas novas, testemunhos vivos dos homens de boa fé e vontade firme. Na segunda-feira de manhã, fui à casa Magna, das minhas intimidades de criança. O pai Magno, mantinha ainda e seu expecto vigorosa e os anos não o haviam feito mudar de expecto. Era ainda o mesmo. O filho estava calvo, tinha engordado, usava óculos. Eu nunca mais reconheceria nele o meu “Quim” de infância, se não fora uma fotografia que gentilmente me ofereceu há uns 3 ou 4 anos.
Enquanto ultimei uma conversa banal, principiada já depois da despedida, minha família seguiu em direcção à praça. Vi que pararam à porta do meu antigo patrão e notei que a minha mãe olhava para dentro com certo espanto. Não sei o que senti, ao ver surgir de dentro do balcão a figura daquele que considerava morto há muito, desempenado, como foi sempre e, nos lábios um sorriso acolhedor, que eu também conhecia. Só quando o senti nos braços tive a plena convicção de que os meus olhos me eram fiéis. Tive necessidade de beija-lo, único meio de me libertar do peso que me comprimia o peito e me sufocava em absoluto.
Convidou-me a acompanha-lo ás cinco da tarde num passeio pela cidade, que aceitei com visível alegria. Também à família J. Morão eu devia atenções e quis ser cumpridor do dever para com aquela gente, a quem o meu pai serviu muitos anos e que para mim tinham sido duma extrema bondade. Procurei pelo pai e apareceu-me o filho. Aquele tinha falecido, soube-o nesse momento. Mais um amigo que eu teria de apagar da minha memória terrena.
A mãe, senhora cuja imagem nunca se me varreu do sentido – morena, alta, esbelta, olhar vivo e penetrante, inteligente e culta – conservava ainda muitos destes traços, meus conhecidos da sua juventude.
Era agora uma viúva e as vestes do luto também contribuíam para me parecer que os anos lhe haviam produzido estragos. O filho já o não conhecia. Revivi naquele momento gratas recordações as minha infância, algumas já com quase 30 anos passados.
Pouco demorou a nossa conversa, mas foi o bastante para me convencer que as pessoas, as mesmas de outros tempos, estavam ali e o filho havia encarnado os dotes de bondade do pai.
Às 5 horas combinadas, apresentei-me ao meu ilustre cicerone. Percorremos a cidade e mostrou-me com pormenores tudo aquilo que no decorrer de 20 anos se tinha feito. Isto é: Fez-me passar por uma data que o tempo jamais pode apagar e conclui que a revolução continua. O Parque e o Hotel de Turismo, ficaram-me bem vincados na memoria, por serem indispensáveis ao viajante. Para os descrever com exactidão, teria que escrever algumas paginas e tornava-me enfadonho, mas afirmo, sem receio de errar, que Castelo Branco tem dois verdadeiros mimos de conforto e beleza que, ao pé de outros bons, são indiscutivelmente iguais e juntos aos melhores, não envergonham a Cidade.
Visitar Castelo Branco, hoje é já ter a certeza de encontrar ali tudo quando se deseje. E dada a circunstancia do serviço bem organizado e económico de transportes e esplêndidas estradas, aquela Cidade beirã proporciona um período de ferias tranquilas e pouco dispendiosas. Se fosse médico, diria até que o seu clima é benigno, e aconselhava-o para muitas curas de repouso.
Por esta simples forma, pretende dar aos meus ilustres conterrâneos conta do meu elevado apreço pelas suas iniciativas no desenvolvimento sempre crescente da nossa terra, que a todos muito honra, e agradecer a quantos me facultaram desfrutar comodidades e prazeres ou me facultaram os elementos necessários para a ficara conhecendo melhor.
Em 17- 04 - 1951 
José Roxo
Ps. O artigo de José Roxo,  foi postado neste blog tal como foi publicado em 1951.
O Albicastrense

terça-feira, setembro 09, 2014

A TERRA ALBICASTRENSE

FACTOS E ALBICASTRENSES
De
OUTROS TEMPOS
Nos velhos jornais da terra albicastrense, tenho encontrado artigos que são autênticas pérolas. A jóia que aqui quero destacar desta vez, é uma carta enviada ao director do jornal reconquista em 1951, por José Roxo.
Nessa carta, José Roxo narra a sua visita a Castelo Branco, após vinte anos de ausência. Curiosamente, José Roxo fala na sua carta, de um antepassado meu com grande carinho e ternura (tio avô), situação que me deixou com um grande sorriso no rosto. 
 Todavia, o que me levou a postar o referido artigo neste blog, é a história da sua vista à terra albicastrense, após 21 anos de ausência. Narrativa, onde ele fala das bichas de cântaros no chafariz na Mina, Granja e Cansado, da Carreirinha, da capela de S. Jorge, do miradouro, da travessa da alegria e de muitas outras coisas novas, que a terra albicastrense viu nascer nos anos em que ele esteve ausente. 
O artigo é sem qualquer duvida, uma verdadeira lição de história desse tempo para os albicastrenses de hoje, aula, onde ele fala de locais e de pessoas que muito contribuíram para o desenvolvimento da terra albicastrense. A postagem deste artigo, é pois, uma pequena homenagem deste albicastrense, a outro albicastrense que muito deve ter amado a sua terra.
VINTE ANOS DEPOIS
(17 – 04 - 1951)
Castelo Branco tem progredido muito nos últimos vinte anos, talvez mais que qualquer outra cidade de província. Comprovam-no todos os que por aqui passam, naturais ou estranhos, depois de alguns anos de ausência .
José Roxo, albicastrense que muito ama a sua terra, sentiu-o vivamente, quando à dias a visitou, e bem o mostra na franqueza que transparece na carta que após a sua visita, nos enviou e que hoje começamos a publicar:
Pelo ano de 1931, sai de Castelo Branco – minha terra natal – com destino a longínquas paragens. Era novo ainda - menos de 20 anos – e levava na alma a ânsia de vencer. Comigo foi toda a fortuna que possuía: pai e mãe. Na terra ficaram-me apenas saudades e um pequeno punhado de amigos, entre eles o meu já velho patrão, Joaquim Martins Bispo. Ao serviço dele havia passado alguns anos da minha infância e tinha-lhe amor e respeito.
Alto, seco, já calvo, barba grisalha, olhar franco e voz forte, era um tipo perfeito de homem que sabe o que quer e para onde vai. Isto é: infundido respeito, impunha-se à simpatia. Sempre sereno e calmo, em todos os actos da sua vida lhe apreciei uma honestidade perfeita, uma consciência sã e uma vontade firme, cativante e atraente. Assim, em cada cliente tinha um amigo, e seus colaboradores encontravam nele um bom conselheiro. Parti em busca de novos horizontes e nunca mais o vi. Os anos passaram, uns após os outros, e duas décadas se completaram em 1951, sem que tivesse oportunidade de voltar ao ponto de partida.
Falando de Castelo Branco, inclui-o sempre, no número das minhas recordações, mas, um dia, fui informado de que havia morrido. Isto não me surpreendeu, porque, quando o vi pela ultima vez era tal como o descrevi. Nunca mais falei dele. A cidade havia aumentado, diziam-me. Eu senti desejo de, ao menos uma vez, voltar ao berço natal e, no dia 8 do corrente, eis-me a caminho para a minha “velha terra”.
Eram 4 horas de tarde quando cheguei, rodeado dos meus, pois tinha fundado um lar há muito. Sem filhos é certo, mas criei encargos, com os quais me considero
protector de uma grande família. DEUS abençoa o meu casal, observo-o cheio de graças e vivo contente, rodeado de velhos e crianças a quem o meu braço faz felizes. A cidade de há 20 anos antes tinha sofrido uma verdadeira revolução!
O progresso, aguilhoada pelos homens de boa vontade, vincou-lhe na alma a marca da geração que trabalha à sombra da Cruz de Cristo. Isto vi logo de início e à chegada. Parei no passeio publico e olhei à minha volta. Observei e conclui: Do seu ventre brota agora água a jorros, vinda de muito longe e as bichas de cântaros na Mina na Granja e no Cansado, cederam campo às condutas que, de gigantescos depósitos, levam o precioso liquido ao local de consumo.
Vi-os mais tarde no castelo. Melhoramento importante! Bendito seja quem o levou a afeito, numa ordem crescente de luta pela prosperidade da terra e bem comum. Muitas casas novas, de arquitectura moderna, já construídas, outras ainda em construção, largas avenidas e jardins, etc, identificaram-me uma data e homens que o tempo jamais pode apagar da memoria das gerações.
Tudo me era novo, estranho e encantador. Ali, na Carreirinha, tinham desaparecido as casitas baixas de outrora, dando lugar a uma espaçosa avenida em direcção à estação de Caminho de Ferro. Do solar do “Dr. Francisco” surgiu-me, como por encanto um majestoso edifício alto e bem vigorosa aparência. Além, frente ao quartel de cavalaria, no local onde fora o monumento da Grande Guerra, estava uma placa ajardinada.
Acolá, tinha desaparecido o muro duma propriedade conhecida por mim como pertença de D. Maria da Piedade Ordaz e em vez dele, outras edificações de beleza incontestável. Mais além, até a velha “capela de S. Jorge”, onde vi funcionar uma taberna, tinha desaparecido. No local nasceu outro belo edifício. Em frente ao Governo Civil, as rampas e muros transformaram-se em jardins.
Do outro lado, o muro das Finanças, onde estava ele? Nem vestígio. Tudo casas novas! Muitas casas novas. Até o quartel, tinha agora um murito em frente, muito engraçado. Que transformação total eu estava verificando, na minha velha urbe! Só a “Popular” de J. Martins Bispo & Filho conservava ainda o seu expecto de então. Observei-a com cuidado, saudoso dos tempos idos. Era domingo e as portas estavam fechadas, mas eu previ o seu interior como à 23 anos a havia deixado. Apenas o meu velho amigo tinha abandonado definitivamente o seu lugar junto da pequenita mesa que ocupava dentro da casa no interior do balcão. Ele morrera há muito, disseram-me.
Ela deveria estar lá, porque Camilo, sucessor do pai, era bastante conservador. Eu iria abraçá-lo no dia seguinte e sofrer um pouco a ausência daquele velhote inteligente e bondoso, que me havia guiado nos primeiros passos do comercio. Mal sabia eu a alegria que me esperava.... (continua no próximo número). Neste caso: no próximo “post”.
Ps. A primeira parte do artigo de José Roxo, está aqui postado, tal como foi publicado em 1951.
O Albicastrense

quarta-feira, setembro 03, 2014

PRIMEIRA PAGINA - (V)

JORNAL BEIRA BAIXA

50 ANOS DEPOIS
 (6 de setembro de 1964  -  6 de setembro de 2014)












O Albicastrense

terça-feira, setembro 02, 2014

PRAÇA REI D. JOSÉ


UM VELHO PALACETE EM RECUPERAÇÃO
Já por várias vezes aqui tinha falado, do desditoso estado em que se encontrava o velho palacete cuja imagem ilustra este “post”, foi pois, com um sorriso nos lábios, que ao passar na Praça Rei D. José, constatei que o infeliz coitado, está finalmente a ser recuperado, é caso para dizer: “ Mais vale tarde que nunca”.
Com a recuperação do velho palacete, a praça Rei D. José vai finalmente ser um local de que a terra albicastrense e os albicastrenses, se podem e devem orgulhar.
UM POUCO DE HISTÓRIA

Entre 1872 e 1950 o referido largo acudia pelo nome de Largo do Comércio, mas era vulgarmente conhecido pelos albicastrenses por Largo das Pinheiras.
A atual designação da Praça Rei D. José, foi proposta na grande reforma toponímica realizada em 1950, na terra albicastrense.
Nesta praça destaca-se (entre outros), o velho palacete em recuperação, palacete que foi construído pelo comerciante e industrial Joaquim dos Santos Sal, mais conhecido pela alcunha do “Barão do Sal”, que nele residiu, e instalou o seu importante estabelecimento comercial. Edifício que deve ter sido projectado por Manuel dos Santos Sal, irmão do proprietário. Actualmente o rés-do-chão dá guarida a um único estabelecimento comercial, no primeiro andar está instalado a sede distrital de um partido politico.
PS. Recolha de dados: “O Programa Polis em Castelo Branco”, edição da Câmara Municipal.
O Albicastrense

ANTÓNIO ROXO - DEPOIS DO ABSOLUTISMO - (12)

"MEMÓRIAS DA TERRA ALBICASTRENSE" Espaço da vida político-social de Castelo Branco, após a implantação do regime constitucional. U...