terça-feira, maio 31, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (VI)

 O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
                                                              Por Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
Este dramático acontecimento provocou um verdadeiro estado de tensão na vila, pois o alcaide--mor D. António de Meneses tomou imediatamente as medidas indispensáveis param a captura e castigo dos implicados na morte de seu filho: fecharam-se as portas da fortaleza e cerca amuralhada; piquetes armados esquadrinhavam a terra e arredores, em busca dos assassinos; meteram-se na prisão algumas pessoas supostas cúmplices no atentado, entre elas os pais de Manuel da Fonseca Leitão e Simão da Silva de Almeida (o pai e a irmã deste ficaram detidos em casa). Durante três dias, os sinos das igrejas anunciam as cerimónias com o enterro das vítimas e a celebração de missas por suas almas.
De Lisboa veio logo uma numerosa alçada presidida pelo desembargador João Pinheiro, que convoca e ouve testemunhas, entre as quais o Dr. Francisco de Luna; liberta os julgados inocentes, como o Dr. João de Almeida e seus filhos; e acaba por confirmar as suspeitas quanto ao envolvimento no caso da nobre família do Fonseca Leitão. A alçada permanece bastante tempo na vila, recebendo ordenados elevados todos os seus membros. Assim: o juiz-presidente, Dr. João Pinheiro, vencia 4 cruzados por dia; o meirinho Francisco do Vale e o escrivão Sebastião do Vale, 500 réis cada um, além de mais 12 homens a 100 réis e tudo à custa da fazenda dos delinquentes.
Enfim, a sentença é pronunciada em Castelo Branco, a 14.12.1624, sendo condenados todos os culpados não só em pesadas penas pecuniárias destinadas às famílias das vítimas e despesas com o processo, mas também aos mais severos castigos, que são logo executados na praça da vila e por forma simbólica, pois não se haviam capturado os criminosos.
Assim: Manuel da Fonseca Leitão foi degolado em estátua ao pé do pelourinho e obrigado ao pagamento de 2000 cruzados a D. António de Meneses, 300000 réis aos irmãos de Manuel de Matos e 200000 réis para Bernardo da Silva; Francisco da Costa de Mendonça (seu tio, irmão da mãe) enforcado também em estátua e a igual indemnização; João Tavares, o «Castelhano» e Francisco Mayor, o «corta-focinhos», enforcados depois de decepadas as mãos no pelourinho; Francisco da Proença degradado até ao fim da vida para Angola, com baraço e pregão pelas ruas públicas; Manuel Vaz Alfaia e António Sanches em 5 anos de degredo para o Brasil.
Quanto aos pais e irmãos de Manuel da Fonseca Leitão, que haviam ficado presos, foram condenados sem 8 anos de degredo para o Brasil; a nunca mais viverem em Castelo Branco ou 10 léguas ao redor; e no pagamento de 4000, 200 e 100 cruzados, respetivamente, para os mesmos acima nomeados.
Como os restantes réus andavam fugidos, Antão da Fonseca teve de suportar todas as penas pecuniárias, avaliadas em cerca de 25000 cruzados. No cumprimento da sentença partiu para o Brasil, onde morreram sua mulher e dois filhos, ambos solteiros e sem geração: a infeliz D. Maria de Mendonça e João da Fonseca, a quem mataram em Pernambuco. De regresso a Portugal, viveu os últimos anos em Oledo, aqui falecendo a 15.3.1651. Manuel da Fonseca Leitão, seu filho herdeiro, esteve homiziado muitos anos em Castela e passando a Roma ali tomou ordens menores.
Por alvará de 20.4.1651, EI-Rei D. João IV deu-lhe licença para voltar ao reino, falecendo no Sabugal a 23.3.1673.
Entre finais de 1508 e começos de 1509, desenrolara-se também na antiga fortaleza albicastrense, mais precisamente no Paço dos Comendadores e Alcaides-mores, um outro acontecimento dramático, que vamos relatar por forma sucinta...
Era então alcaide-mor da vila D. João de Castelo Branco, 3° filho de D. Filipa de Ataíde e Nuno Vaz de Castelo Branco, vedor da azenda de D. Duarte e D. Afonso V, monteiro-mor e almirante do reino (12.4.1467), etc. Ora, não obstante a sua fama de galante poeta e esforçado cavaleiro, D. João foi muito infortunado no amor. Tinha casado com D. Leonor (filha de D. Isabel de Sousa e Afonso Vaz de Brito alcaide-mor de Souse e caçador-mor de D. Manuel I) e, havendo tomado posse de alcaidaria de Castelo Branco, (c. 1506), ali passou a residir com sua mulher e filha, nos paços da Alcáçova. Porém, D. Leonor apaixonou-se loucamente por Frei António Penalvo, seu capelão e beneficiado na igreja de Santa Maria do Castelo. Este, instigado pela amante, acometeu certa noite à traição o descuidado alcaide-mor, deixando-o estropiado e quase morto... Sobre o caso existem escassas memórias e delas apresentamos talvez a mais curiosa:
- D. Leonor de Sousa, mulher do alcaide-mor D. João de Castelo Branco, fazia-lhe adultério com um clérigo seu capelão e, para mais seguramente continuar no seu delito, ordenou que o dito clérigo o matasse. Para este fim o meteu em sua casa, que era no castelo da vila de Castelo Branco e, entrando D. João pela porta já de noite, lhe deu o dito clérigo com um alfange muitas feridas, deixando-o por morto; e, logo,  para desmentirem o delito, se pôs a dita D. Leonor e o clérigo sobre o corpo de D. João a fazer grande pranto contra quem o matara.
Acudiu o juiz de fora e fazendo buscar todas as pessoas, que estavam n casa, achou ao clérigo o alfange ensanguentado pelo que, compreendendo o delito e a origem dele, o prendeu e a D. Leonor. E dando conta a El-Rei, que estava em Évora, ele os mandou levar àquela cidade e logo mandou degolar a dita D. Leonor e o clérigo foi degradado para S. Tomé, onde seria morto por um parente de D. João, o qual não morreu das feridas mas ficou aleijado. Depois, correndo o tempo e desavindo-se com D. Manuel I, lhe pediu licença para passar a Castela e El-Rei lha deu e também para vender a alcaidaria-mor a D. Diogo de Meneses, claveiro da Ordem de Cristo; e D. João, pondo em efeito a sua determinação, se passou àquele reino onde morreu.(19)
Uma outra versão refere que D. Leonor de Sousa fora sentenciada « a morrer morte natural por justiça, sem lhe valer a grandeza do nascimento nem a valia dos seus muitos e ilustres parentes», (20) tendo sido degolada na praça de Évora, onde D. Manuel esteve continuadamente desde Outubro de 1508 a Setembro de 1509. Quanto a D. João sofrera profundos cutiladas numa mão, face e vista, de tal modo que quando Duarte de Armas passou por Castelo Branco, em meados de 1509, ainda ele se achava incapacitado para o exercício das suas funções. No entanto, acaba por restabelecer-se e suponho que o epíteto de o «Braço de Ferro», pelo qual é designado algumas vezes, não teria resultado apenas do seu grande valor mas talvez por utilizar qualquer aparelho metálico destinado a corrigir esse membro afetado pela brutal agressão do amante da mulher.
 Enfim, D. João retoma a sua atividade e, a 13.8.1513, parte de Lisboa na armada capitaneada por D. Jaime, duque de Bragança, que vai tomar Azamor no norte de África. De regresso ao reino (1514), D. Manuel concede-lhe a comenda dos Maninhos, em Castelo Branco, ficando também a usufruir a tença de 10000 réis por ano com o hábito de Cristo... O mesmo rei dá-lhe licença, em 5.6.1516, para trespassar uma tença de 30000 réis em sua única filha D. Maria de Castelo Branco, por virtude docasamento desta com Fernão Cabral, senhor de Azurara e alcaide-mor de Belmonte. Mas, pouco tempo depois, vende a alcaidaria-mor de Castelo Branco a D. Diogo de Meneses, claveiro da Ordem de Cristo e retira- -se para Castela, onde teve brigas sobre uma dama com «El Grand Capitan», D. Gonçalo Fernandez de Córdoba.
No «Cancioneiro Geral» de Garcia de Resende (1516), vemos uma só poesia da sua autoria dirigida a D. Guiomar de Meneses e nela declara: «Se vos eu vira, senhora, antes de ter o mal meu...»
(Continua)
                                               O Albicastrense

sábado, maio 28, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (V)

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
                                                               Por Manuel da Silva Castelo Branco

V - A derradeira «Aventura» de D. Pedro de Meneses/Amor proibido no paço dos comendadores.

(Continuação)
Assento 12 (S1 - 10, fl. 39) - Ao derradeiro dia do mês de Abril de 1624, mataram o senhor D. Pedro de Meneses, filho do senhor D. António de Meneses, comendador desta vila e seu alcaide-mor. Morreu duma espingardada na Costeira, ao fundo do chão que foi de Pero Gonçalves, donde dizem que lhe atiraram pela uma hora...
Deu a alma a Deus, foi confessado e ungido. Ao dia seguinte, o levaram a enterrar ao mosteiro de Santo António e, no dia seguinte depois do seu enterro, lhe disseram missa de presente e um oficio de 9 lições por sua alma os padres de Santo António e os de Nossa Senhora da Graça; e, ao outro dia, lhe fizeram os padres seculares (todos os que acharam presentes na terra) outro oficio e, por verdade, assinei/Frei Martim Dias Caldeira.
Assento 13 (Ibid., fl. 39v) - Ao derradeiro dia do mês de Abril de 1624, mataram Manuel de Matos e, segundo se disse, morreu de uma espingardada em companhia do senhor D. Pedro, cujo criado era. Foi confessado e ungido e morreu de morte apressada; não fez manda e jaz enterrado em Santo António.
Disse-se-lhe missa de presente ao dia seguinte e, por verdade, assinei. / Frei Martim Dias.
Comentário
Assim finalizaram tragicamente as aventuras «galantes» em que D. Pedro de Meneses se envolvera, quer com raparigas solteiras quer com mulheres casadas da vila, sem atender ao seu estado e condição social. D. Pedro, filho 2° de D. Constança de Távora e D. António de Meneses alcaide-mor e comendador de Santa Maria de Castelo Branco, vivera os primeiros anos na corte e, depois, andara embarcado nas Armadas, mas viera encontrar aqui o ambiente propício para satisfazer as suas inclinações «sentimentais» pelo sexo oposto...
Adicionar legenda
Com efeito, D. Pedro era ainda novo, usava o mesmo nome de seu 5° avô, o célebre conde de Viana e Vila Real (1° Capitão de Ceuta no reinado de D. João I) e, a princípio, muitos desculpavam-lhe os caprichos, sentindo-se honrados com a sua convivência ou gratos pela generosidade que demonstrava. Em breve, porém, começaram a tornar-se notórias e mal vistas algumas das suas aventuras amorosas, em especial as que houvera com D. Ana de Lucena e D. Ana de Almeida.
A primeira pertencia a uma numerosa família de cristãos - novos, sendo casada com Duarte Rodrigues também da mesma nação; na ausência deste e sem o consentimento dela, sua irmã D. Isabel de Lucena facultava a D. Pedro a entrada da casa, favorecendo assim os seus «ilícitos e desonestos amores»... (15) A segunda era irmã de Simão da Silva de Almeida e ambos filhos do doutor João de Almeida, desembargador da Casa da Suplicação, que servira de provedor da Misericórdia (1615-1616) e juiz de fora de Castelo Branco; D. Pedro «conversava» com ela aproveitando a complacência do boticário Manuel Jordão e de sua mulher D. Maria Lopes, por cuja residência penetrava na contígua do pai de D. Ana «tirando umas tábuas do sobrado»... (16)
De tudo isto resultaram discórdias e ódios mortais, pelo que o desembargador Francisco Borges de Faria veio a Castelo Branco tirar devassa, em 1622, com o fim de pôr cobro a tão melindrosa e degradante situação; e, no ano seguinte, D. Pedro e D. Fernando de Meneses (seu irmão mais velho) recebem ordem para regressar à corte.
E, então, sucede o inacreditável!... A vila divide-se em dois partidos: de um lado, os que consideram benéfica e indispensável a saída dos dois fidalgos, pois sentiam-se vexados com as suas liberdades e prepotências; do outro, os que lhe são favoráveis. Estes últimos acabam por dominar a situação, levando a própria Câmara a fazer uma representação a Filipe III, datada de 7.5.1623, manifestando-se contrária à retirada de D. Fernando e D. Pedro de Meneses «fidalgos tão ilustres e de tanta consideração e importância, pois eram amparo e refúgio de todas as necessidades da gente pobre e miserável com as sua pessoas e rendas, despendendo-as com tanta caridade e liberalidade e fazendo amizade e concórdia em proveito comum do povo» e, igualmente, opondo-se à devassa dos dois irmãos por tal medida resultar da inimizade que lhes tinham o juiz de fora da vila e dois homens dela (Diogo Pais Freire e Simão da Silva de Almeida) e mais gente «apaixonada por questões e delitos que se poderiam castigar e remediar por outras vias»... (17)
Efetivamente, o juiz de fora não subscreve este documento, nem as pessoas indicadas e outras mais, mas o certo é que os dois fidalgos permanecem na vila.
Entretanto, D. Pedro mete-se em nova aventura, pois enamora-se de D. Maria de Mendonça filha de Antão da Fonseca Leitão, fidalgo da Casa Real e senhor do grande morgado de Oledo, o qual assistia havia alguns anos com a sua família na velha urbe albicastrense. Segundo vários autores, D. Pedro teria desonrado a jovem com promessas de casamento; outros referem que, andando a requestá-la, seus parentes o advertiram para «cessar nos amores e se queria casar com ela a pedisse ao pai»... (18)  Em qualquer caso, a atitude de D. Pedro foi de afrontamento e esquiva pelo que, ferida na honra, a orgulhosa família do Fonseca Leitão decidiu vingar-se e terminar de vez com a causa da sua vergonha. Assim, na noite de 30.4.1624, um grupo de vários homens chefiados por Manuel da Fonseca Leitão (irmão de D. Ana) emboscou-se junto aos muros do castelo, defronte da porta da Traição e, quando D. Pedro de Meneses cavalgava pelo caminho da Costeira, de regresso à Alcáçova, acompanhado por Bernardo da Silva Castelo Branco e Manuel de Matos (seu criado), atiraram sobre eles... para matar!...  Era uma hora da madrugada... Apanhados de surpresa e antes de poderem ripostar, D. Pedro e Manuel de Matos foram atingidos cada um por 5 balas e Bernardo da Silva ficou com os três dedos principais da mão esquerda esfacelados.
Alertados pelo tiroteio e gritaria, acorreram criados e alguns soldados da guarnição, que transportaram os feridos para o Paço da Alcáçova. 
Ali faleciam, no mesmo dia e depois de confessados e receberem a extrema-unção, tanto D. Pedro como o seu criado. Quanto a Bernardo da Silva sobreviveu aos ferimentos, permanecendo no castelo durante algum tempo sob os cuidados do médico e cirurgião Dr. Francisco de Luna (irmão do célebre Dr. Filipe Montalto).
(Continua)
                                               O Albicastrense

quarta-feira, maio 25, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (IV)

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
IV - A «Peste pequena» em Castelo Branco (1600-1602).

Assento 10 (S1 - 1M, fl.417) - Aos 25 dias do mês de Junho de 1600, faleceu Catarina Vilela mulher do Gázeo, do Torrejão. Jaz enterrada para a Amoreira, «impedida», não sei se fez manda.
Assento 11 (Ibid.,fl.420) - Aos 14 de Junho de 1602, faleceu a Doutor André Esteves médico e jaz enterrado em Santo António. Fez testamento e é testamenteiro seu sobrinho Baltazar Leitão, prior no Sarzedo.

Comentário
Com efeito, consideravam-se «impedidos» não só os contagiados como todos os que trabalhavam na luta contra a peste, pois estavam impedidos de contactar as pessoas sãs e eram obrigados a usar sinais. Daqui podemos presumir que o mal já entrara há algum tempo na vila e seu termo... Após o caso acima referido sucedem-se muitos outros, num total de mais de 90 assentos de óbito registados até 22.6.1602 na freguesia de Santa Maria; como desapareceram os da igreja de S. Miguel, correspondentes a este período, os elementos de que dispomos são incompletos mas, mesmo assim, bastante elucidativos... Eles testemunham-nos os «andaços» da chamada «peste pequena», na então vila de Castelo Branco.
A epidemia alastrou também aos Cebolais de Cima, Benquerenças do Meio e Maxiais, atingindo os membros de todas as classes sociais, de qualquer idade, sexo e raça. Muitas famílias foram ceivadas ou quase destruídas, outras procuravam na fuga a esperança da salvação e tenho notícia de que algumas se refugiaram em Alcaíns, Escalos de Cima, Sertã e mesmo no Sabugal; pessoas ocasionalmente na vila, ali vieram encontrar o último dia das suas vidas. (13)
Porém, nesta dramática conjuntura, não podemos olvidar a acção do Dr. André Esteves, médico do partido em Castelo Branco que, a 14.6.1602 (como consta do Assento 11), acabou por sucumbir aos efeitos da doença que havia combatido durante cerca de dois anos. Dos restantes clínicos ali residentes apenas sei que o boticário e cirurgião António Aires (pai do célebre Dr. Filipe Montalto) curara «dedicadamente os doentes do mal contagioso na Casa de Saúde da vila, dando toda a ordem necessária para remédio deles e sem receber salário algum...» (14)
(Continua)
                                                     O Albicastrense

domingo, maio 22, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (III)

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
III - O mais antigo Monumento sepulcral na igreja de Santa Maria de Castelo

Assento 7 (Ibid.,fl. 189v) - Aos 9 dias do mês de Julho de 1564, faleceu Maria de Siqueira. Fez testamento e jaz enterrada no moimento dentro da igreja.
Assento 8 (Ibid., fl.400v) - Aos 25 dias de Abril de 1597, faleceu Baltazar de Siqueira e jaz sepultado no moimento levantado que está dentro desta igreja de Santa Maria. Fez testamento e sua mulher, Beatriz Pais, é testamenteira.
Assento 9 (S1- 2M, fl.238) – Frei António Estaço, capitão de cavalos e cavaleiro da nossa Ordem, faleceu em o mesmo dia que sua mãe (a 17.11.1663) e está enterrado em o túmulo dos leões.
Comentário
O mais antigo monumento sepulcral, de que há notícia na igreja de Santa Maria do Castelo, aparece designado nestes registos por “o moimento” ou “moimento levantado” e, ainda, pelo “túmulo dos leões”, visto assentar sobre 3 de pedra.
Consistia num caixão de pedra, com 15 palmos de comprimento por 6 de alto, suportado pelos 3 leões e situava-se no meio do corpo da igreja, à parte direita, junto ao púlpito e abaixo da porta travessa. Pertencia à família do ilustre albicastrense D. Fernando Rodrigues de Sequeira (1338-1433), cavaleiro de Aljubarrota, Mestre da Ordem de Avis, Regente e Defensor do Reino enquanto D. João I esteve fora dele à conquista de Ceuta (1415). 
Ali se haviam depositado os restos mortais de sua mãe D. Maria Afonso e da avó desta, chamada D. Estevaínha; e, durante vários séculos, seria a última jazida dos descendentes do Mestre por via de sua filha D. Brites Fernandes de Sequeira, entre os quais D. Maria e Baltazar de Siqueira, referidos nos Assentos 7 e 8. A partir de finais do século XVI, os morgados desta geração passaram a viver noutras povoações (Proença-a-Nova e Rosmaninhal), ficando o mausoléu a um ramo dela, encabeçado no Dr. Simão de Oliveira da Costa (1604-1673), que ali mandou colocar novamente o seguinte letreiro: (11) Aqui jaz a Madre de Fernão Roiz de Siqueira Mestre da Cavalaria de Avis Nele seriam ainda depositados mais alguns membros desta família, como por exemplo:
- Frei António Estaço da Costa, em 17.11.1663, conforme consta do Assento 9 e assinalava o epitáfio gravado numa pedra, com 5 palmos de comprido e 2 de largo, metida na parede da igreja, por cima da urna:
Aqui está sepultado o capitão de cavalos António Estaço da Costa Cavaleiro da Ordem de Cristo ano de 1663.
- P. Martinho de Oliveira da Costa, arcipreste do distrito de Castelo Branco, em 28.12.1691 (SI - 3M, fl. 230v).
- P. Matias de Siqueira da Costa, tesoureiro da igreja de Santa Maria, a 9.2.1735 (S1-i4M, fl. 146v).
Em 1753, já o túmulo fora demolido “pela indecência e deformidade que resultava da ruína que lhe tinha causado a diuturnidade de tempo” (12), conservando-se apenas a última lápide; mas, actualmente, nada resta desta significativa memória do passado...
(Continua) 
O Albicastrense

quinta-feira, maio 19, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (II)

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
II - Em louvor do poeta João Rodrigues de Castelo Branco
Assento 4 (Ibid., fl.28v) - No dito dia (24.11.1549) eu, Jordão Fernandes clérigo, baptizei Bartolomeu filho legítimo de Vasco Gil e Francisca Pires. Padrinhos: João Roiz de Castelbranco e Diogo Gomes; Madrinhas: Violante Fernandes e Isabel Vaz. E, por verdade, assinei / Jordão Fernandes.
Assento 5 (Ibid., fi. 209) – Aos 14 dias do mês de Dezembro de 1574, faleceu Antónia de Andrade filha que foi de António Vaz de Andrade e de Beatriz Vaz de Castelbranco. Não fez testamento, tem legítima e jaz enterrada dentro da igreja.
Assento 6 (Ibid., fl.202v) - Aos 16 dias do mês de Julho de 1569,faleceu António Vaz de Andrade. Fez testamento e jaz enterrado na igreja.
Comentário 7
No Assento 4, aparece como padrinho do batizado um João Roiz de Castelbranco (6), nome do famoso poeta albicastrense de “Cancioneiro Geral” de Garcia de Resende. Contudo, não se trata do próprio mas de um sobrinho e homónimo...O nosso Poeta havia falecido pouco antes de 1532,ficando os seus restos mortais depositados na capela - mor da igreja de Santa Maria. No Assento 5, figura efectivamente sua filha, D. Beatriz Vaz de Castelo Branco, casada com António Vaz de Andrade cavaleiro-fidalgo da Casa Real, o qual faleceu a 16.7.1569 (Assento 6), sendo sepultado na sua capela do Espírito Santo, depois extinta (7)... Quanto a Beatriz Vaz, refere o Dr. Miguel Achiolida Fonseca que “ está enterrada com seu pai e tios na capela maior de Santa Maria do Castelo”. Ora, neste local só encontramos, actualmente, duas sepulturas com campas armoriadas pertencentes à família de D. Catarina Vaz Carrasco de Sequeira, mulher do poeta João Rodrigues (8). Daqui, suponho que este foi depositado numa delas...Manuel Rodrigues Lapa, ao tratar das composições do «Cancioneiro Geral» dedicadas ao Amor triste, da despedida, acentua:- “A mais formosa composição sobre o tema é a conhecida Cantiga sua, partindo-sede João Roiz de Castelo Branco. O que impressiona nesta poesia, ademais do seu ritmo singular, é a ideia formosa-mente expressa do que o amor, naquela hora derradeira, todo conflui para os olhos que se cravam apaixonadamente tristes no objecto amado”. (9) Em louvor do nosso Poeta, aqui evocamos a sua celebrada composição. (10)
Senhora, partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes,
 Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora d’esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes,
Outros nenhuns por ninguém.
(Continua)
                                                O Albicastrense 

terça-feira, maio 17, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (I)

Os Cadernos de Cultura. Medicina na Beira Interior da Pré-história ao Século XXI publicaram em Novembro de 1993, um interessantíssimo trabalho de Manuel da Silva Castelo Branco sobre os registos paroquiais da terra albicastrense.
Trabalho que não posso deixar de aqui postar na sua totalidade, independentemente de já aqui ter postado uma ou outra coisa sobre este tema. O trabalho será publicado em vários postes. 
Este é sem qualquer duvida, um trabalho que bem merece ser conhecido e divulgado por todos nós. BOA LEITURA.....

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco

Já por várias vezes tive a oportunidade de enaltecer o extraordinário contributo dos antigos registos paroquiais na pesquisa e estudo da história local. Esperamos confirmar tal facto neste trabalho sobre O Amor e a Morte, pela apresentação e análise sumária de um certo número de assentos (1) de batismo (B), casamento (C) e óbito (O), extraídos dos respetivos livros existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e respeitantes às freguesias de Santa Maria (S1) e S. Miguel (S2), de Castelo Branco...

I - Homenagem a Amato Lusitano e Filipe Montalto
Assento 1- (S1-1M, fl. 13) (2) - Aos16 dias de Setembro de 1547, eu vigário batizei Aires filho legítimo de Filipe Rodrigues e Brígida Gomes. Padrinhos: L. do redro Brandão e Simão Gonçalves anadel e Catarina Fernandes e Isabel Gonçalves. E, por verdade, assinei / Frei Simão Afonso.
Assento 2 - (Ibid., fl. 97) - Aos seis dias do mês de Outubro de 1567, batizei Filipe filho legitimo de António Aires e Catarina Aires. Foram Padrinhos Manuel Viegas e Guiomar Henriques, os quais o tomaram da pia e, conforme ao Santo Concílio, lhes declarei o parentesco em que ficavam.
Assento 3 - (Ibid., fl.200v) - Aos 13 dias do mês de Junho de 1567, faleceu a mãe de Filipe Rodrigues mercador. Não fez testamento e jaz enterrada dentro da igreja. Comprou cova e deram a prenda ao P. Baltazar Gonçalves.

Comentário
Filipe Rodrigues, nomeado no Assento 1, era irmão do famoso médico albicastrense Dr. João Rodrigue (mais conhecido por Amato Lusitano) e do L. do Pedro Brandão, que figura também no mesmo registo como um dos padrinhos de batismo do seu sobrinho Aires Gomes. Este licenciou-se em leis, foi procurador na terra natal e teve de enfrentar, aliás como quase toda a sua família de cristãos-novos, o tribunal do Santo Oficio; uma sua irmã, D. Catarina Aires, casou na igreja de Santa Maria, a 22.4.1563, com António Aires boticário e cirurgião em Castelo Branco, tendo o casal numerosa descendência, do qual destacamos o célebre médico Dr. Filipe Rodrigues (mais conhecido por Filipe Montalto), cujo registo de batismo se traslada no Assento 2 (3). Amato Lusitano e seu sobrinho-neto Filipe Montalto – Mestres insignes na luta contra a dor e a morte - os seus nomes não podiam deixar de encabeçar este trabalho!...
No Assento 3, apresentamos um registo de óbito inédito: o da mãe de Amato Lusitano, que faleceu em Castelo Branco a 13.6.1567, cerca de 7 meses antes do filho, vitimado pela peste em Salónica, a 21.1.1568. O L. do Pedro Brandão (irmão de Amato) frequentou também a Universidade de Salamanca, onde se formou em leis (30.7.1537), sendo nomeado procurador da correição de Castelo Branco, por carta régia feita em Lisboa a 13.12.1538 (4). Casou com D. Leonor do Mercado, cristã-nova (filha de Pero da Cunha, escudeiro-fidalgo da Casa Real e recebedor das sisas de Alfaiates, e de sua mulher D. Brites do Mercado), da qual houve geração. (5)
(Continua) 
O Albicastrense

sábado, maio 14, 2016

quarta-feira, maio 11, 2016

PRECIOSIDADES DA TERRA ALBICASTRENSE


OS NOSSOS TESOUROS - XI


O bonito portão situado na rua da Graça, não podia deixar de aqui ser classificado como uma das pérolas da terra albicastrense.

Aos albicastrenses que visitam este blogue, gostaria de colocar a seguinte questão: Na placa toponímica que está afixada neste portão, consta rua da Graça, contudo, para quem nasceu em Castelo Branco esta rua sempre foi conhecida como rua da Mina. 
Se alguém questionar um albicastrense sobre onde fica a rua da Mina, não tenho dúvidas que qualquer um apontará esta rua, todavia, se perguntarem onde fica a rua da Graça, tenho sérias dúvidas sobre a resposta.
Como  devem os albicastrenses tratar esta rua,  por rua da Graça, ou por rua da Mina?
O Albicastrense

segunda-feira, maio 09, 2016

ROTUNDAS DA TERRA ALBICASTRENSE - (I)


O CASAMENTO DAS ROTUNDAS 
COM O BORDADO DE CASTELO BRANCO

Tal como foi prometido pelo presidente da autarquia albicastrense, duas rotundas situadas na urbanização da Granja ostentam já símbolos do bordado de Castelo Branco. As imagens captadas por mim no local e aqui postadas, são prova disse mesmo. 
Tenho para mim, que esta é sem qualquer dúvida uma das melhores promoções que se pode fazer ao nosso bordado. 
Assim que houver mais rotundas com símbolos do “nosso“ bordado, as imagens serão aqui colocadas.


 
 BORDADO 
DE
 CASTELO BRANCO


NAS
ROTUNDAS
DE
TERRA
ALBICASTRENSE

  
Albicastrense

domingo, maio 08, 2016

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - CVIII


A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).
(Continuação)
(Continua)
O Albicastrense

quinta-feira, maio 05, 2016

CASA DA MEMÓRIA DA PRESENÇA JUDAICA EM CASTELO BRANCO

NA JANELA DO BLOG
Alertou-me alguém que, “A Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco” na rua das Olarias, vai finalmente ser uma realidade.
O edifício foi comprado e restaurado pela autarquia albicastrense, contudo, depois de ser restaurado ficou às aranhas durante algum tempo.

A Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco pretende contar a história de uma comunidade que em muito contribui para o desenvolvimento da cidade no período quinhentista”.

O espaço onde vai ser instalada a casa da comunidade Judaica não podia ser mais apropriado, pois no interior da casa existe uma belíssima arcada em granito, e ainda parte da velha muralha albicastrense. Aos responsáveis pela excelente ideia, só posso mesmo dar os parabéns e coloca-los na janela do blog.
                                      O Albicastrense

segunda-feira, maio 02, 2016

TESOUROS DA NOSSA ZONA HISTÓRICA

OS NOSSOS TESOUROS - X


A pérola que desta vez estou a postar, tem residência  na travessa da rua Nova. 
Pérola que o tempo quase tornou imperceptível, mas que a aselhice dos homens quase torna invisível.  

É CASO PARA PERGUNTAR


Que mal fizeram os velhos portados quinhentistas aos albicastrenses, para eles os andarem a borrar? 

O Albicastrense

ANTÓNIO ROXO - DEPOIS DO ABSOLUTISMO - (12)

"MEMÓRIAS DA TERRA ALBICASTRENSE" Espaço da vida político-social de Castelo Branco, após a implantação do regime constitucional. U...